domingo, 18 de outubro de 2015

Sobre o dia 15 de outubro - Mensagem publicada no facebook

Neste dia 15 de outubro quero comemorar, refletir e desabafar.

Este ano a comunidade escolar santarena perdeu um grande professor: Prof. Waldemir Vasconcelos, que foi um grande mestre para os seus alunos. Com a sua perda houve uma ampla reflexão sobre os seus feitos, além de comentários dos muitos alunos que o tiveram como referência.
Esse é um dos motivos dessa mensagem.

Como minha admiração pelo Prof. Waldemir era e continua firme, quero aproveitar para citar aqui todos os professores que marcaram a minha vida, especialmente aqueles que foram exigentes (pois assim incentivaram-me a crescer), amigáveis (com momentos de conversa e orientação) e apaixonados pela sua profissão (davam o melhor de si, mas com prazer).

Como sabemos, a escola ensina sim, mas a primeira educação já vem de casa. Pois bem, meus primeiros professores foram meus pais Alonso e Eunice: Exigentes, acolhedores, firmes com as palavras, com suas limitações, claro! Sempre fazendo aquela mesa redonda em família. Tudo isso valeu para mim.

· Professora Eunice Ferreira da Silva, minha mãe, sempre fazendo suas atividades criteriosamente e com muita organização. Foi minha inspiração! Algumas vezes emprestei minha letra para elaborar cartazes de minha mãe, na faculdade. Sim, algumas vezes com preguiça. Coisa de adolescente... Eu que por tantas vezes brinquei de ser professora dos meus irmãos.

· Coincidência ou não, outra professora que declaro aqui é a Prof. Lucicleia Tavares (minha tia e madrinha). Foi minha professora na Escola Maria Amália, 4ª série. Lembro-me que disputávamos sua atenção, pois era muito tranqüila e carinhosa.

· Profª Nilza Navarro. Professora de Matemática da 5ª série – CESAN. Explicação clara. Com ela aprendi a gostar de Matemática.

· Profª Isomar. Ensino Fundamental. Escola Pedro Álvares Cabral. Nossa! Lembro das aulas muito interessantes de Estudos Paraenses.

· Prof. Waldemir Vasconcelos (in memorian). Escola Cabral. Sério, exigente, temido. Exigia-nos fazer o alfabeto completo na folha de papel quadriculado... Isso era sensacional, apesar de muito cansativo. Rsrs. Não imaginam o quanto melhorou o garrancho de muitos alunos. Valeu mesmo!!!!

· Profª Edite. Escola Cabral. As aulas de Geografia, os mapas, as cobranças... Aprendi muito!!!!!

· Profª Sebastiana. Escola Cabral. Como era temida por sua exigência. Suas aulas de Matemática eram ótimas!!! Nossos cadernos eram impecáveis. Muito bom!

· Profª Raimunda de Fátima. Escola Cabral. Português e Redação. Séria, exigente, criteriosa. Nos esforçávamos pra valer!

· Profª Isaura Siqueira. Escola Álvaro Adolfo. Literatura. Ela se envolvia na explicação de tal forma que aquela imagem nunca saiu da minha cabeça. Ótimas lembranças! A reencontrei há algumas semanas. Que saudade!

· Prof. Carvalho Flávio. Escola Álvaro Adolfo. Ele foi “culpado” por eu me apaixonar pela Biologia. Aqueles nomes estranhos, aquele conteúdo tão interessante que falava do ser humano. Muito bom mesmo! Depois nos encontramos novamente já na faculdade de Biologia, claro! Ele, meu professor novamente.

· Prof. Aldo Campos (in memorian). Escola Álvaro Adolfo. O Prof. Aldo amava o que fazia e nós o amávamos. Tinha uma dinâmica extraordinária de chamar nossa atenção na hora da aula. E olha que Geografia nunca foi minha paixão!

· Profª Lurdinha. Escola Álvaro Adolfo. História. Uma aula trabalhada com entusiasmo. Era mesmo uma viagem na História. Ela continua lá no Álvaro Adolfo. Um dia desses nos reencontramos na assembleia e eu disse: Oi professora, quanto tempo! Sabe, eu adorava suas aulas! E ela sorriu.

· Prof. Reginaldo Wanghon. UFPA. Química. Ele realmente falava a linguagem da Licenciatura, que era o que fazíamos de fato. Suas aulas eram claras e interessantes.

· Profª Loreni Bruch Dutra. ULBRA. Pós-graduação. Ela nos mostrou os vários desafios da arte de educar, sempre de uma forma muito dinâmica. Uma fala firme, trazendo a atenção de todos. Isso foi fundamental para o meu crescimento.

Meus queridos professores, vocês tiveram participação em cada uma das minhas conquistas. Todos os ensinamentos que recebi de vocês foram importantes para que eu continuasse o meu caminho com responsabilidade, dedicação e prazer.
Sou eternamente grata por toda essa aprendizagem e sinto-me feliz por lembrar que fizeram ou fazem parte da minha vida.
Sinceramente, penso que fui uma boa aluna. Não era nenhum “Albert Einstein” (rsrs), mas era muito esforçada e dedicada. Isso muito me ajudou!

Eis agora meu desabafo.... (Com mil desculpas por essa reflexão muito verdadeira).

Naquela época (nem sei até quando) os alunos, em sua maioria, eram mais dedicados. A média de aprovação era 8,0 pontos e muitos conseguiam. Os boletins com notas vermelhas quase não se via. O número de alunos que ficavam para recuperar (só no final do ano) era reduzido. Não recebíamos livros do governo e, conseguir comprar um era coisa de rico. Quando tínhamos pesquisa, fazíamos um belo passeio pelas bibliotecas da cidade ou emprestávamos livro de alguém que tinha (e eram poucos).

Hoje: Vemos poucos, pouquíssimos alunos dedicados, e olha que a média de aprovação caiu para 5,0 pontos. Quase não se vê boletim sem nota vermelha e o número de alunos na recuperação é gritante. Os alunos recebem livros e muitos não levam para a escola. Se há pesquisa para fazer, o conteúdo está todo na internet, mas muitos só copiam e colam, nem sequer leem....

Naquela época também, quando o professor ia para a sala de aula, estávamos o esperando, atentos, concentrados. Havia um respeito muito grande. Nos referíamos aos nossos professores com grande admiração. Não era preciso o professor ensaiar o grito do Tarzan para que os alunos ficassem calados. Não era preciso o professor implorar para que fizéssemos nossas tarefas. Era tudo tão espontâneo. Vale ressaltar que naquela época não havia data show ou coisa parecida para tornar a aula “interessante”.

Hoje: Quando entramos na sala, muitos alunos nos recebem com um “Vixi”. É preciso esperar que alguns alunos retornem para a sala, quando já estamos lá. Precisamos pedir que os alunos guardem o celular e o fone de ouvido, quando os mesmos já deveriam ter feito isso (Nada contra o uso do celular como ferramenta, pois eu mesma já o utilizei). Manter a turma concentrada muitas vezes pode ser uma tortura. E hoje o professor procura várias formas para manter a atenção do aluno.

Nós, professores, não somos perfeitos, erramos muito. E quem não erra? Mas estamos lá, todos os dias, fazendo a nossa parte, sonhando que um dia as coisas melhorem. Ensinando, conversando, orientando, participando... Cada um do seu jeito.
Particularmente penso que são simples os presentes que podemos receber pelo dia do Professor: ser escutado na sala de aula, ser respeitado, que o aluno faça o dever com dedicação, que o aluno estude para as avaliações. Nossa! Seria mesmo um sonho!

O que aconteceu?

Penso que o governo facilitou demais para o aluno e dificultou para nós. Deu muitas gratificações para os pais e aumentou a nossa responsabilidade.
Ser aprovado já é muito fácil, o que faz cair a qualidade do ensino. Consequentemente não há preparação para o mercado de trabalho e claro, esse fato irá refletir de forma negativa na formação da sociedade. É uma bola de neve que está crescendo há anos!!!!!!!!!!!!!!!! Isso é Brasil!!!!!!!!

Minha vida como professora

Bem, estou como professora há 16 anos (Bodas de Safira com a Educação) e já enfrentei alguns desafios.
No começo tinha pena de lançar nota vermelha aos alunos (quando mereciam, claro) e forçava de alguma forma para aquela nota melhorar. Verdade!!! Depois descobri que aquilo não ajudaria ninguém. Iria somente camuflar a realidade. É, vivendo e aprendendo!
Quando comecei, apenas com 21 anos, não sabia lidar com aqueles alunos indisciplinados e minha imaturidade contribuiu muito para que perdesse o controle (mas sem fazer barraco, rsrs).
No meio desse caminho, certa vez um aluno disse que “Me pegaria lá fora”. Pode isso, Arnaldo? Rsrs. Na hora tremi na base, mas claro, me fiz de corajosa.
Minha exigência na sala de aula também contribuiu para que alguns alunos não gostassem de mim. Isso é natural. Alguns alunos não gostam de professores exigentes. O lado ruim é que ficou uma distância entre nós que não me fez bem. Por isso, gostaria de aqui pedir desculpas a todos esses alunos. Só tentei fazer o que achava que era melhor.
Adoro o meu trabalho, mas tudo isso já fez com que quisesse desistir da profissão, pois não é fácil. Só entende de fato quem sente na pele. Essa vontade de desistir fica oscilando...

O lado bom!

Ah, o lado bom é maravilhoso! Com alguns alunos criei vínculos muito fortes.
É ótimo quando, no final da aula, o aluno diz: Professora, adorei a aula de hoje!
É gratificante reencontrar um aluno e ouvir: Professora, quanto tempo! Que saudade!
É emocionante receber uma carta de um aluno relatando o quanto você foi importante na vida dele. Isso não tem preço!

De fato, ser professor é algo muito bom!

Amigos do face, minha avaliação é particular, obviamente. Os professores que marcaram a minha vida podem ter marcado a vida de um ou outro aluno. Os alunos com os quais tive algum atrito podem ter sido os melhores alunos de outro professor. Ou seja, isso é relativo, porém, acredito que os obstáculos que cercam o nosso trabalho, como professores, são comuns entre todos nós.
Deixo aqui minha comemoração, minha reflexão, meu desabafo, meu apelo.
E mais uma vez desculpas pela sinceridade que pode incomodar alguém que leia esta mensagem.
É a minha verdade, a minha sinceridade, a minha angústia e os meus sonhos.

Abraços,

Profa. Tatiane Santos