Neste dia 15 de outubro quero comemorar, refletir e desabafar.
Este ano a comunidade escolar santarena perdeu um grande professor:
Prof. Waldemir Vasconcelos, que foi um grande mestre para os seus
alunos. Com a sua perda houve uma ampla reflexão sobre os seus feitos,
além de comentários dos muitos alunos que o tiveram como referência.
Esse é um dos motivos dessa mensagem.
Como minha admiração pelo Prof. Waldemir era e continua firme, quero
aproveitar para citar aqui todos os professores que marcaram a minha
vida, especialmente aqueles que foram exigentes (pois assim
incentivaram-me a crescer), amigáveis (com momentos de conversa e
orientação) e apaixonados pela sua profissão (davam o melhor de si, mas
com prazer).
Como sabemos, a escola ensina sim, mas a primeira
educação já vem de casa. Pois bem, meus primeiros professores foram meus
pais Alonso e Eunice: Exigentes, acolhedores, firmes com as palavras,
com suas limitações, claro! Sempre fazendo aquela mesa redonda em
família. Tudo isso valeu para mim.
· Professora Eunice Ferreira da Silva,
minha mãe, sempre fazendo suas atividades criteriosamente e com muita
organização. Foi minha inspiração! Algumas vezes emprestei minha letra
para elaborar cartazes de minha mãe, na faculdade. Sim, algumas vezes
com preguiça. Coisa de adolescente... Eu que por tantas vezes brinquei
de ser professora dos meus irmãos.
· Coincidência ou não, outra professora que declaro aqui é a Prof. Lucicleia Tavares
(minha tia e madrinha). Foi minha professora na Escola Maria Amália, 4ª
série. Lembro-me que disputávamos sua atenção, pois era muito tranqüila
e carinhosa.
· Profª Nilza Navarro. Professora de Matemática da 5ª série – CESAN. Explicação clara. Com ela aprendi a gostar de Matemática.
· Profª Isomar. Ensino Fundamental. Escola Pedro Álvares Cabral. Nossa!
Lembro das aulas muito interessantes de Estudos Paraenses.
·
Prof. Waldemir Vasconcelos (in memorian). Escola Cabral. Sério,
exigente, temido. Exigia-nos fazer o alfabeto completo na folha de papel
quadriculado... Isso era sensacional, apesar de muito cansativo. Rsrs.
Não imaginam o quanto melhorou o garrancho de muitos alunos. Valeu
mesmo!!!!
· Profª Edite. Escola Cabral. As aulas de Geografia, os mapas, as cobranças... Aprendi muito!!!!!
· Profª Sebastiana. Escola Cabral. Como era temida por sua exigência.
Suas aulas de Matemática eram ótimas!!! Nossos cadernos eram impecáveis.
Muito bom!
· Profª Raimunda de Fátima. Escola Cabral. Português e Redação. Séria, exigente, criteriosa. Nos esforçávamos pra valer!
· Profª Isaura Siqueira.
Escola Álvaro Adolfo. Literatura. Ela se envolvia na explicação de tal
forma que aquela imagem nunca saiu da minha cabeça. Ótimas lembranças! A
reencontrei há algumas semanas. Que saudade!
· Prof. Carvalho Flávio.
Escola Álvaro Adolfo. Ele foi “culpado” por eu me apaixonar pela
Biologia. Aqueles nomes estranhos, aquele conteúdo tão interessante que
falava do ser humano. Muito bom mesmo! Depois nos encontramos novamente
já na faculdade de Biologia, claro! Ele, meu professor novamente.
· Prof. Aldo Campos (in memorian). Escola Álvaro Adolfo. O Prof. Aldo
amava o que fazia e nós o amávamos. Tinha uma dinâmica extraordinária de
chamar nossa atenção na hora da aula. E olha que Geografia nunca foi
minha paixão!
· Profª Lurdinha. Escola Álvaro Adolfo. História.
Uma aula trabalhada com entusiasmo. Era mesmo uma viagem na História.
Ela continua lá no Álvaro Adolfo. Um dia desses nos reencontramos na
assembleia e eu disse: Oi professora, quanto tempo! Sabe, eu adorava
suas aulas! E ela sorriu.
· Prof. Reginaldo Wanghon. UFPA.
Química. Ele realmente falava a linguagem da Licenciatura, que era o que
fazíamos de fato. Suas aulas eram claras e interessantes.
· Profª Loreni Bruch Dutra.
ULBRA. Pós-graduação. Ela nos mostrou os vários desafios da arte de
educar, sempre de uma forma muito dinâmica. Uma fala firme, trazendo a
atenção de todos. Isso foi fundamental para o meu crescimento.
Meus queridos professores, vocês tiveram participação em cada uma das
minhas conquistas. Todos os ensinamentos que recebi de vocês foram
importantes para que eu continuasse o meu caminho com responsabilidade,
dedicação e prazer.
Sou eternamente grata por toda essa aprendizagem e sinto-me feliz por lembrar que fizeram ou fazem parte da minha vida.
Sinceramente, penso que fui uma boa aluna. Não era nenhum “Albert
Einstein” (rsrs), mas era muito esforçada e dedicada. Isso muito me
ajudou!
Eis agora meu desabafo.... (Com mil desculpas por essa reflexão muito verdadeira).
Naquela época (nem sei até quando) os alunos, em sua maioria, eram mais
dedicados. A média de aprovação era 8,0 pontos e muitos conseguiam. Os
boletins com notas vermelhas quase não se via. O número de alunos que
ficavam para recuperar (só no final do ano) era reduzido. Não recebíamos
livros do governo e, conseguir comprar um era coisa de rico. Quando
tínhamos pesquisa, fazíamos um belo passeio pelas bibliotecas da cidade
ou emprestávamos livro de alguém que tinha (e eram poucos).
Hoje:
Vemos poucos, pouquíssimos alunos dedicados, e olha que a média de
aprovação caiu para 5,0 pontos. Quase não se vê boletim sem nota
vermelha e o número de alunos na recuperação é gritante. Os alunos
recebem livros e muitos não levam para a escola. Se há pesquisa para
fazer, o conteúdo está todo na internet, mas muitos só copiam e colam,
nem sequer leem....
Naquela época também, quando o professor ia
para a sala de aula, estávamos o esperando, atentos, concentrados. Havia
um respeito muito grande. Nos referíamos aos nossos professores com
grande admiração. Não era preciso o professor ensaiar o grito do Tarzan
para que os alunos ficassem calados. Não era preciso o professor
implorar para que fizéssemos nossas tarefas. Era tudo tão espontâneo.
Vale ressaltar que naquela época não havia data show ou coisa parecida
para tornar a aula “interessante”.
Hoje: Quando entramos na
sala, muitos alunos nos recebem com um “Vixi”. É preciso esperar que
alguns alunos retornem para a sala, quando já estamos lá. Precisamos
pedir que os alunos guardem o celular e o fone de ouvido, quando os
mesmos já deveriam ter feito isso (Nada contra o uso do celular como
ferramenta, pois eu mesma já o utilizei). Manter a turma concentrada
muitas vezes pode ser uma tortura. E hoje o professor procura várias
formas para manter a atenção do aluno.
Nós, professores, não
somos perfeitos, erramos muito. E quem não erra? Mas estamos lá, todos
os dias, fazendo a nossa parte, sonhando que um dia as coisas melhorem.
Ensinando, conversando, orientando, participando... Cada um do seu
jeito.
Particularmente penso que são simples os presentes que
podemos receber pelo dia do Professor: ser escutado na sala de aula, ser
respeitado, que o aluno faça o dever com dedicação, que o aluno estude
para as avaliações. Nossa! Seria mesmo um sonho!
O que aconteceu?
Penso que o governo facilitou demais para o aluno e dificultou para
nós. Deu muitas gratificações para os pais e aumentou a nossa
responsabilidade.
Ser aprovado já é muito fácil, o que faz cair a
qualidade do ensino. Consequentemente não há preparação para o mercado
de trabalho e claro, esse fato irá refletir de forma negativa na
formação da sociedade. É uma bola de neve que está crescendo há
anos!!!!!!!!!!!!!!!! Isso é Brasil!!!!!!!!
Minha vida como professora
Bem, estou como professora há 16 anos (Bodas de Safira com a Educação) e já enfrentei alguns desafios.
No começo tinha pena de lançar nota vermelha aos alunos (quando
mereciam, claro) e forçava de alguma forma para aquela nota melhorar.
Verdade!!! Depois descobri que aquilo não ajudaria ninguém. Iria somente
camuflar a realidade. É, vivendo e aprendendo!
Quando comecei,
apenas com 21 anos, não sabia lidar com aqueles alunos indisciplinados e
minha imaturidade contribuiu muito para que perdesse o controle (mas
sem fazer barraco, rsrs).
No meio desse caminho, certa vez um
aluno disse que “Me pegaria lá fora”. Pode isso, Arnaldo? Rsrs. Na hora
tremi na base, mas claro, me fiz de corajosa.
Minha exigência na
sala de aula também contribuiu para que alguns alunos não gostassem de
mim. Isso é natural. Alguns alunos não gostam de professores exigentes. O
lado ruim é que ficou uma distância entre nós que não me fez bem. Por
isso, gostaria de aqui pedir desculpas a todos esses alunos. Só tentei
fazer o que achava que era melhor.
Adoro o meu trabalho, mas tudo
isso já fez com que quisesse desistir da profissão, pois não é fácil.
Só entende de fato quem sente na pele. Essa vontade de desistir fica
oscilando...
O lado bom!
Ah, o lado bom é maravilhoso! Com alguns alunos criei vínculos muito fortes.
É ótimo quando, no final da aula, o aluno diz: Professora, adorei a aula de hoje!
É gratificante reencontrar um aluno e ouvir: Professora, quanto tempo! Que saudade!
É emocionante receber uma carta de um aluno relatando o quanto você foi importante na vida dele. Isso não tem preço!
De fato, ser professor é algo muito bom!
Amigos do face, minha avaliação é particular, obviamente. Os
professores que marcaram a minha vida podem ter marcado a vida de um ou
outro aluno. Os alunos com os quais tive algum atrito podem ter sido os
melhores alunos de outro professor. Ou seja, isso é relativo, porém,
acredito que os obstáculos que cercam o nosso trabalho, como
professores, são comuns entre todos nós.
Deixo aqui minha comemoração, minha reflexão, meu desabafo, meu apelo.
E mais uma vez desculpas pela sinceridade que pode incomodar alguém que leia esta mensagem.
É a minha verdade, a minha sinceridade, a minha angústia e os meus sonhos.
Abraços,
Profa. Tatiane Santos
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